Média: trabalho do Fisco escandaliza opinião pública
Na imprensa e nas redes sociais, comentadores atacam o trabalho da DGCI e não comentam a legislação em vigor.

Por ocasião dos Finados, os inspectores das Finanças aproveitaram os dias para fazer operações de fiscalização nos cemitérios. O facto ocorreu no distrito de Aveiro. De acordo com o Jornal de Notícias, uma mega operação andou em busca de comerciantes de velas, flores e artigos destinados ao luto, colocados geralmente junto aos cemitérios. Muitos não cumprem com a legislação, não estando colectados, não tendo os equipamentos obrigatórios para emitir facturas.
A opinião pública reagiu negativamente ao normal trabalho dos inspectores das Finanças. A notícia foi veiculada pelo Jornal de Notícias com o título: "Em véspera de Todos os Santos, Fisco vai multar aos cemitérios", um título que deixa no ar uma conotação negativa: o Fisco aproveita de forma maldosa uma celebração popular para fazer a caça à multa.
Outros portais noticiosos fizeram eco deste título. Nas redes sociais, vários comentadores veicularam a opinião de que este procedimento das Finanças é eticamente incorrecto, deixando comentários como "feios, porcos e maus" ou simplesmente "isto é nojento".
Estes tipo de opinião é veiculada como sendo a opinião do bom senso e da liberdade democrática contra a tirania do Estado. Na verdade, esta opinião é apenas a outra face da mesma moeda, de um Estado que mostra pouco respeito pelos cidadãos - e de cidadãos que não respeitam o Estado nem os outros cidadãos. Juntar no mesmo raciocínio a acção fiscalizadora das Finanças e a recente proibição de contestar decisões de valor inferior a 5000 euros, uma decisão realmente injusta, prova que a nossa cultura simplesmente não aceita regras.
Imaginemos os comerciantes de flores que, por algum motivo, se lembraram de cumprir com a legislação em vigor. Que têm documentos de compra e venda, guias de transporte, que estão colectados, que têm um equipamento para passar facturas. Eles sabem que muitos dos seus concorrentes não cumprem com estas regras, e portanto têm de lidar com essa desvantagem. O que pensarão eles da fiscalização? Eventualmente, que se trata de um acto de justiça, uma vez que eles tiveram de cumprir essas regras e fazer esses investimento. E o que pensarão eles desta opinião que circula na imprensa e nas redes sociais? Eventualmente, que a opinião pública não tem pena nenhuma dos "palermas" que se dispõem a cumprir as regras.
Se as autoridades sabem ou têm indícios que existem pessoas a fugir à lei, têm de fazer os possíveis para identificá-los, e se isso significa ir às portas dos cemitérios, fazer operações STOP ou colocarem-se numa praia, à noite, à espera de traficantes de droga - é isso que se espera.